Capa idealizada por Hans Bathelt, figurando o mascote da banda (o rato branco)
Contexto da Produção
Segundo a biografia oficial do Triumvirat, o álbum antecessor, "Illusions on a Double Dimple", abriu o caminho para a banda chegar nos mercados atraentes do outro lado do Atlântico, especialmente o mercado norte-americano. No entanto, faltava uma faixa mais comercial para conquistar esses mercados, uma vez que o álbum "Illusions" era composto de duas faixas com mais de vinte minutos. Ainda assim, o álbum havia sido bem recepcionado.
A banda retornou aos estúdios triunfante com o resultado e, em apenas vinte e oito dias, gravou este álbum com a ajuda do famoso engenheiro de som Geoff Emerick, conhecido por ter produzido o memorável "Sargeant Pepper's Lonely Hearts Club Band" dos Beatles. A gravadora Capitol Records ficou satisfeita com "Spartacus" - apesar de o álbum carecer de um hit implacável que alavancasse a banda à elite da música mundial - pois o formato com faixas menores permitia a penetração pela rádio e a exploração de mercados em que o rock progressivo ainda era insipiente, como Brasil e Argentina.
Triumvirat fez a turnê de lançamento deste álbum na Europa com a banda Grand Funk Railroad, e nos Estados Unidos com diversas bandas, dentre as quais se destacam Supertramp, Nektar e Caravan. No final da turnê, em Los Angeles, Helmut Köllen (baixo e vocal) anunciou sua saída para iniciar uma carreira solo. Os outros membros tentaram em vão persuadi-lo a continuar. Köllen já tinha escrito uma penca de músicas para um estilo musical diferente. Antes de sair, ele ainda participaria do teste com os seus substitutos até a banda firmar com Werner Frangenberg (baixo) e Barry Palmer (vocal).
Álbum Conceitual
Esse é um álbum conceitual que tem como temática a rebelião dos escravos liderada por Espártaco contra a opressão do governo de Roma e em busca da liberdade. O conceito foi idealizado por Hans Bathelt, o baterista e letrista da banda.
The Capital of Power
Jürgen Fritz
Em 509 a.C., os aristocratas romanos depuseram o último rei etrusco a governar Roma, dando início à decadência do regime monárquico na península itálica. No seu lugar, emergia a República Romana. Na prática, em vez de um rei, dois cônsules eram indicados pelo comitê de senadores. Uma constituição republicana foi elaborada, afastando a possibilidade de novas tiranias. Na medida em que a nova forma de governo tornava-se de fato uma res publica (coisa pública), a classe plebeia, que representava a maioria dos romanos, reivindicava mais direitos perante os patrícios, a elite governante composta de aristocratas e donos de propriedades. Esse embate jurídico e político ocasionou a constante revisão legal e após muitos anos transformou a constituição republicana em uma ferramenta sólida e complexa para a expansão do poder de Roma.
Em dois séculos a península itálica já estava romanizada. Os novos territórios conquistados eram desprovidos de suas riquezas em prol de Roma. O povo dominado não era taxado pelo império, mas compelido a ceder os filhos a fim de aumentar a legião do exército romano. Uma parte considerável, no entanto, era reduzida à escravidão, pois sua mão-de-obra era o suporte indispensável para a expansão do território. Em 73 a.C., havia 2 milhões de escravos servindo a 4 milhões de romanos. Os escravos com maior vigor físico normalmente eram vendidos a lanistas que os forçavam a lutar em arenas como gladiadores. A subjugação aos romanos, entretanto, não evitou que os escravos eventualmente se rebelassem. O século I a.C. foi marcado pelas guerras dos escravos, sendo a mais relevante aquela conduzida por Espártaco.
O processo de centralização do poder do império na cidade de Roma está contido nessa faixa instrumental. A banda optou por não explorar liricamente os eventos antecedentes que contextualizam a trajetória de Espártaco. As letras farão alusão a um recorte histórico muito específico, qual seja, da chegada de Espártaco à Academia de Gladiadores de Cápua até a batalha final contra as tropas de Marco Crasso, período que vai aproximadamente de 79 a.C. a 71 a.C.
The School of Instant Pain
Jürgen Fritz / Hans Bathelt
# Proclamation # I'll be your guide so join me and fight to break down the walls that keep us in this misery I'll be your friend believe in the end we built up a new and better land # The Gladiator's Song # I've been trained to kill a man A sword, a spear or with my hand As nature built me big and strong A gladiator's song We're kept like animals in a cage They pay for it to see the rage Their kicks have become stale and dry They get excited when we die Our life it is not meant to last The arms so strong the eyes so fast We're putting on a special show And selling out the big front row There is no chance of getting free We could fight for eternity And death is near it won't take long A gladiator's song # Roman Entertainment # Get ready now, this is your next fight man Don't think too much about yourself Last night you told me that you can't go on You have no choice, you go to hell You said the moments you enjoyed your life They seemed to fade away so fast And when you felt that you had found a friend You knew for sure it wouldn't last I know these people in the audience They want the show to be on time Don't hesitate I ring my special bell And you know that's my starting sign So draw your knife, go out and take your chance And show these folks your bravery And if you manage to come back alive Tomorrow's big fight is at three | # Proclamação # Eu serei o seu guia então junte-se a mim e lute para derrubar os muros que nos mantém nessa miséria Eu serei o seu amigo acredite no final construiremos uma nova e melhor terra # A Canção do Gladiador # Eu fui treinado para matar um homem com uma espada, uma lança ou com a minha mão já que a natureza me constituiu grande e forte A canção de um gladiador Nós somos mantidos como animais numa jaula Eles pagam para ver a raiva A diversão deles se tornou entediante Eles ficam excitados quando morremos Não se espera que nossa vida dure Os braços tão fortes, os olhos tão rápidos Nós estamos realizando um show especial e vendendo a grande fileira da frente Não há nenhuma chance de se libertar Nós poderíamos lutar pela eternidade e a morte está próxima, não vai demorar A canção de um gladiador # Entretenimento Romano # Prepare-se agora, essa é a sua próxima luta cara Não pense muito em si mesmo Noite passada você me disse que não consegue continuar Você não tem escolha, você vai para o inferno Você falou dos momentos que curtiu na sua vida Eles pareciam ter se esvaido tão rápido E quando você sentia que tinha encontrado um amigo você sabia por certo que não iria durar Eu conheço essas pessoas na platéia Eles querem o show acontecendo no horário Não hesite quando eu tocar meu sino especial e você sabe que isso é o meu sinal de partida Então saque sua faca, saia e agarra a sua oportunidade e mostre a essas pessoas sua bravura e se você conseguir voltar vivo a luta de amanhã será às três |
Pouco se sabe sobre a vida de Espártaco até o momento em que foi pego na condição de desertor do exército romano e punido segundo as leis do império com a redução à escravidão. Mesmo essa versão é contestada por alguns especialistas. Contudo, na condição de escravo, Espártaco foi vendido a um lanista chamado Lêntulo Batiato. O mercador adquiria escravos especialmente gauleses e tracianos e os levava para sua academia de gladiadores em Cápua a fim de treiná-los para combaterem entre si na arena perante o testemunho de um extasiado público pagante.
Os primeiros anos de treinamento de Espártaco são relatados nessa faixa. Em "Proclamation", Espártaco revela seu desejo de construir um mundo melhor vencendo, através da luta e com apoio dos seus amigos, todas as barreiras que os mantêm na miséria. É uma espécie de promessa e convite solene aos demais escravos inconformados. Na segunda parte, "The Gladiator's Song", Espártaco descreve o ofício de gladiador. Eles são treinados para matarem a si mesmos com espadas, lanças ou com as próprias mãos nuas. São jogados em celas como se fossem animais e são estimulados a sentirem raiva para que o público se entretenha com o que há de mais animalesco no ser humano. No final das contas, um gladiador não deveria esperar muito de sua própria vida, uma vez que sua morte era iminente e em certo tom apreciável pelos espectadores. Na terceira e última parte, "Roman Entertainment", o lanista estimula Espártaco a focar apenas em mostrar sua bravura na arena, desencorajando-o a revisitar os momentos bons de seu passado ou a perder tempo conversando com outros gladiadores. Caberia a Espártaco empunhar sua arma, ganhar o duelo e estar preparado para um nova luta mortal no dia seguinte.
The Walls of Doom
Jürgen Fritz
Essa faixa instrumental transmite o passar do tempo com as várias apresentações de Espártaco e de seus companheiros escravos confinados nas arenas. Possivelmente alguns anos se passaram: de 79 a.C. a 73 a.C. Em uma dessas noites de descanso, contudo, Espártaco despertou para a insurgência. Ele convenceu os demais escravos a lutarem pela liberdade. O momento está revelado em The Deadly Dream of Freedom.
The Deadly Dream of Freedom
Helmut Köllen / Hans Bathelt
In the night, we lie awake And see the hazy shades of dawn There's no rest for those who die The deadly angel greets the morn I have a dream that we can change it You need just a glimpse of hope and I Will be your leader in the fight against Rome We're united, so you don't stand alone In the night, you hear the drums The last and longest fight begins Your knife is sharp and in your mind You know this time we got to win I can see the face of fate is turning We can throw the ball and chain away We can make it happen just as long as you believe Together we stand up for our peace | À noite, nós deitamos acordados e vimos os tons nebulosos do amanhecer Não há descanso para aqueles que morrem O anjo mortal recepciona a aurora Eu tenho o sonho de que nós podemos mudar isso Vocês só precisam de um vislumbre de esperança e eu serei o seu líder na luta contra Roma Nós estamos unidos, então vocês não estão sozinhos À noite, você escuta os tambores A última e mais longa luta se inicia Sua faca é afiada e em sua mente você sabe que é hora de vencermos Eu consigo ver a face do destino virando Nós podemos jogar fora a bola e a corrente Nós podemos fazer acontecer contanto que vocês acreditem Juntos nós permaneceremos pela nossa paz |
Narra Plutarco¹ que 200 escravos deliberaram uma fuga, mas tão-logo a intenção havia sido descoberta. Ainda assim, 78 não titubearam e seguiram com o intento. Os rebeldes conseguiram furtar espetos, machadinhas e facas de cozinha de uma casa de venda de carne. Dali, fugiram para além da cidade, roubando no meio do caminho um carregamento de armas. Soldados locais foram enviados para recapturar os escravos, mas sofreram uma grande derrota dos revoltosos. Dali, Espártaco e os demais saquearam plantações e libertaram escravos, dentre os quais muitos se juntariam ao exército de gladiadores.
¹ PLUTARCO. Vidas Paralelas. As vidas dos homens ilustres de Plutarco. Volume V. Marco Licínio Crasso. São Paulo: Editora das Américas, 1962. Traduzido por Miguel Milano da edição francesa de 1818 (Paris, Janete et Cotelle) a partir do texto original de 1554.
The Hazy Shades of Dawn
Jürgen Fritz
Essa faixa instrumental retrata justamente o momento da fuga de Espártaco e seus comparsas.
Burning Sword of Capua
Jürgen Fritz
Essa faixa, também instrumental, ilustra o momento de confronto das tropas locais com os revoltosos, do qual Espártaco e seus homens saem vitoriosos.
The Sweetest Sound of Liberty
Helmut Köllen / Hans Bathelt
It was shortly after nine When they started a new time Blood was flowing In the gladiator's school Things we perfect, things were cool Faith was around When the news was spread around Freedom is the sweetest sound You can hear And the hero of them all "Spartacus", you hear them call "Where do we go?" Dreaming of freedom is easy to do You have to fight and win But never lose From the nearby hills and woods Men and women joined the troops Without fear And the hero of them all "Spartacus", you hear them call "Where are we going?" When the Roman soldiers come We will soon be on the run Heaven knows Dreaming of freedom is easy to do You have to fight and win But never lose Building a new world Where hate isn't known A good kind of people with rules of their own | Foi pouco depois das nove quando eles iniciaram uma nova era o sangue estava jorrando Na escola de gladiadores as coisas estavam perfeitas, estavam legais a crença estava na área Quando a notícia se espalhou a liberdade era o som mais doce que você podia ouvir E o herói de todos eles "Espártaco", você os ouve chamar "Para onde nós vamos?" Sonhar com a liberdade é fácil Você tem de lutar e vencer mas nunca perder Das colinas e florestas próximas homens e mulheres se uniram às tropas sem medo E o herói de todos eles "Espártaco", você os ouve chamar "Para onde nós vamos?" Quando os soldados romanos vierem Nós logo estaremos na corrida os céus sabem Sonhar com a liberdade é fácil Você tem de lutar e vencer mas nunca perder Construir um mundo novo onde o ódio não é conhecido um tipo bom de povo com suas próprias regras |
Essa faixa relata as primeiras conquistas de Espártaco contra as legiões romanas e o crescimento do número de revoltosos pelos lugares por onde os homens de Espártaco passavam. Uma dessas conquistas foi contra Caio Cláudio Glabro. Os insurgentes estavam acampados na encosta do Monte Vesúvio. Roma havia enviado o pretor com seus três mil homens. Eles cercaram os escravos no alto do Monte Vesúvio, em uma região coberta de cipós. No entanto, Espártaco ordenou que cortassem os cipós e fizessem cordas para que os escravos atravessassem o Monte, pegando os romanos pela retaguarda na calada da noite. Parte dos homens de Cláudio foi aniquilada e a outra parte fugiu em pânico, deixando para trás armamento e suprimento para os escravos.
Os demais comandantes enviados pelo senado romano fracassariam igualmente. E, a cada vitória, o exército de Espártaco encorporava novos revoltosos gauleses, germânicos, trácios, espanhóis e africanos. Por ora a liderança carismática de Espártaco unificava membros de diversas culturas e línguas em torno de um mesmo objetivo: a luta pela liberdade. Em 73 a.C., Espártaco já contava com cem mil homens. Eles aguardavam o fim do inverno no sul da Itália para então marcharem rumo ao norte a fim de cruzar os Alpes. Assim os escravos fugiriam da Itália e, sobretudo os gauleses e os germânicos poderiam retornar às suas terras natais em liberdade.
The March to the Eternal City
Jürgen Fritz / Hans Bathelt
# Dusty Road # Marching on a dusty road They are on their way to Rome Countless slaves to go to war And they are fighting not alone On their way so confident They are carrying missile and spear The desperation disappeared And victory is near In the sea of blood and bones Sands of time stand still Dying on the dirty road Spartacus has come to kill # Italian Improvisation # # First Success # On Their way so confident They are carryng missile and spear The desperation disappeared And victory is near | # Estrada Empoeirada # Marchado numa estrada empoeirada eles estão a caminho de Roma Escravos incontáveis vão à guerra e eles não estão lutando sozinhos Em seu caminho muito confiante eles estão carregando projéteis e lanças O desespero desapareceu a vitória está próxima No mar de sangue e ossos areias do tempo se adensam sobre a estrada imunda Espártaco veio para matar # Improviso Italiano # # Primeiro Sucesso # Em seu caminho muito confiante eles estão carregando projéteis e lanças O desespero desapareceu e a vitória está próxima |
No caminho para o norte, os escravos dizimavam todas as tropas romanas que eram improvisadamente enviadas. Perto de alcançar os Alpes, o exército de Espártaco foi recepcionado por dez mil homens do pretor Cássio, governador da Gália na região do rio Pó. Com um exército muito maior, Espártaco venceu e acendeu o alerta vermelho do senado romano. As grandes conquistas, no entanto, ocasionaram divergências entre os rebeldes. Crixus, líder dos revoltosos gauleses, achava que seus homens deveriam aproveitar o pânico provocado por eles e saquear as regiões da Itália no lugar de atravessar os Alpes. Espártaco decidiu dar meia-volta e rumar para o sul. Não porque concordou plenamente com Crixus, mas porque sabia que havia um grande número de escravos na ilha de Sicília, local pouco controlado até então pelas tropas romanas. Ele negociou a travessia de seus homens a barco pelo Estreito de Messina com Orsino, o líder dos piratas cilícios, e partiu para o sul.
Nesse meio-tempo, o senado romano ainda não podia contar com a ajuda de seu principal comandante, Pompeu, pois levaria algum tempo para que ele retornasse da bem-sucedida missão na Espanha. Roma depositou então sua confiança no homem mais rico da Itália, Marco Crasso, que, apesar de ser rico, buscava o prestígio político e militar. Com a sua fortuna, adicionou seis legiões de combatentes gabaritados ao exército romano e partiu com cerca de cinquenta mil homens a fim de destruir Espártaco antes que Pompeu o fizesse em seu lugar.
Sabendo da estratégia de Espártaco, Crasso acompanhou de perto a tropa de escravos em direção ao sul para então encurralá-los. Quando os escravos acamparam em uma região ao sul de Nápoles, Crasso enviou duas legiões para cercá-los, alertando que não deveriam atacar até que recebessem a ordem. Os tenentes das legiões, no entanto, desobedeceram o comando e se aproximaram com a intenção de realizar um ataque surpresa. A tentativa falhou porque os homens de Espártaco sabiam da presença inimiga no flanco. Espártaco aniquilou as duas legiões e Crasso sofreu a primeira derrota.
Desacreditado pelo senado e com o receio de que suas tropas temessem mais o inimigo do que seu comandante, Crasso decidiu restabelecer a disciplina e a confiança do exército punindo-os com a dizimação (dividia-se os soldados acovardados em grupos de 10, onde aleatoriamente um era escolhido para ser castigado pelos outros nove).
Em 71 a.C., Espártaco e seus homens chegavam ao Estreito de Messina, onde aguardariam sem êxito Orsini e seus barcos para realizar o transporte dos escravos para Sicília. Crasso já sabia deste plano e habilmente compeliu Orsini a trair Espártaco. Enquanto os escravos criavam jangadas para tentar fazer a travessia, Crasso construía um enorme fosso para levantar uma muralha impedindo que os escravos retornassem para o norte. A tentativa de travessia por jangada fracassou por conta das condições climáticas. O mar estava agitado o suficiente para impossibilitar a travessia por um estreito de apenas 3,3 km. Com isso, os escravos ficaram encurralados.
Espártaco sabia pelos seus batedores que Pompeu rumava em direção ao sul para reforçar as tropas de Crasso. Sabia também que isso era mais um desejo do senado romano do que um pedido de Crasso. Decidiu então negociar sua rendição em troca da liberdade dos companheiros escravos. Assim resolveria o conflito antes da chegada de Pompeu. Porém, Crasso declinou. Negociar com um escravo os termos de rendição mancharia seus méritos da batalha ao retornar à Roma. Espártaco então não teve outra opção senão atacar a muralha. Durante a noite, conduziu seus homens para o local menos vigiado e amontoou galhos, pedras e terra para os escravos atravessarem a muralha. Ao ser informado, Crasso foi imediatamente com seus homens conter o avanço, mas um terço das tropas de Espártaco já havia passado. Dali seguiram em direção a Brindisi na costa leste. O plano era dominar a cidade pegando os navios para atravessar os Bálcãs ou talvez subir o mar Adriático ocupando alguma região ainda não dominada pelos romanos. No entanto, Espártaco fora tempestivamente informado de que o comandante Lúculo acabara de chegar da Macedônia em Brindisi com ordens do senado romano de matar Espártaco. O plano de sair pelo leste teve de ser abortado.
Insatisfeito com as decisões de Espártaco, Crixus decidiu se separar levando consigo 35 mil escravos gauleses. Eles acamparam em um lago na região da Lucânia. Crasso soube da separação e os surpreendeu com um ataque impiedoso. Os gauleses foram aniquilados. Espártaco lamentou a queda de Crixus, mas não revidou o ataque de imediato. Refugiou-se nas montanhas de Petélia a fim de preparar seus homens para a batalha final. Crasso sabia do posicionamento de Espártaco e ordenou que o tenente Quinto atacasse com sua legião pela retaguarda de Espártaco. No entanto, Quinto e seus homens sucumbiram à bravura dos escravos. A vitória rendeu confiança suficiente para os escravos acreditarem que era possível derrotar os exércitos de Crasso e de Pompeu.
Este é o contexto para The March to the Eternal City. A letra ressalta a ansiedade dos escravos por alcançar a vitória definitiva sobre os romanos. A segunda parte, "The First Success", é justamente uma referência à primeira vitória de Espártaco sobre Crasso nas montanhas de Petélia. Embora os escravos estivessem determinados a vencer, Espártaco sabia que cada vez menos tinha controle sobre sua tropa e que isso poderia ser um empecilho diante da disciplina formal do exército romano. O misto de ansiedade e perseverança com o receio do desfecho da batalha final é a tônica para a faixa seguinte.
Spartacus
Jürgen Fritz / Hans Bathelt
# The Superior Force of Rome # The day is gone The sky is red A bloody shine deceitful peace It's just a break The fighter's need Tomorrow's sunrise waits for more Soon the final dance begins In the early morning sun Think of tomorrow Yesterday's burden Nearly forgotten In a corner of your mind There's heaven above you A starry blanket You dream in the darkness Of tomorrow # A Broken Dream # Sky so blue the sun is shining high On the battlefield you see them die Fighting bravely never getting weak There's no mercy in this dust and heat Spartacus stands, sword in his hands Drawing a blood line all around Fighting so hard for a new start He stands like a rock In the surge of the sea No one comes near Suddenly the soldiers realize They need more men to survive this fight All confused you see them dash away losing now but they come back some day Spartacus knows, though he has won Too many men of his army are gone For him and his friends there is no chance To fight again for their liberty Never be free Thousand faces without hope and home Kind of death will be the choice of Rome Crucifixion of a lion's food Human victims of an age so cruel Glory and wealth, Power of Rome Built on the shoulders of millions of slaves Spartacus knows, though he was close Their chance is gone It was all in vain There'll be more blood and pain # The Finale # | # A Força Superior de Roma # O dia se foi O céu está vermelho Um brilho sangrento de uma paz enganosa É apenas uma pausa A necessidade do lutador O nascer do sol de amanhã aguarda mais Logo a dança final se iniciará No começo do sol da manhã Pense no amanhã O fardo de ontem praticamente esquecido num canto de sua mente Os céus estão acima de você um cobertor estrelado Você sonha na escuridão de amanhã # Um Sonho Rompido # O céu estava bem azul, o sol brilhando no alto no campo de batalha vocês os via morrerem Lutando bravamente sem nunca fraquejar não havia misericórdia nessa poeira e calor Espártaco de pé com a espada em suas mãos desenhando uma linha de sangue em todos os entornos lutando duro para um novo começo Ele se manteve como uma rocha no surto do mar ninguém chegava perto De repente os soldados perceberam que precisavam de mais homens para sobreviver a essa luta Todos confusos você os via disparando para longe perdendo por ora, mas eles retornariam algum dia Espártaco sabe, embora ele tenha vencido que muitos homens de seu exército se foram Para ele e seus amigos não havia nenhuma chance de lutar novamente pela liberdade deles Nunca seriam livres Milhares de rostos sem esperança e abrigo Meio que a morte será a escolha de Roma Crucifixo para comida de um leão Vítimas humanas de uma era muito cruel Glória e riqueza, poder de Roma construidos nos ombros de milhões de escravos Espártaco sabe, embora ele estivesse próximo que sua chance se foi Foi tudo em vão Haverá mais sangue e dor # O Desfecho # |
A primeira parte, "The Superior Force of Rome", narra o descanso dos homens de Espártaco após vencerem o tenente Quinto. O dia estava se pondo e uma paz enganosa os acometera. Não havia nenhuma garantia do que poderia acontecer no dia seguinte. Quando amanheceu, Espártaco havia deixado a montanha com uma tropa possivelmente superestimada de 49 mil homens. Sua intenção era construir fortificações de campo e aguardar a chegada dos romanos, mas muitos de seus homens já realizavam ataques pontuais com o objetivo de dispersar a atenção das tropas de Crasso. A tática não evitou que Crasso realizasse um ataque frontal e direto pela planície contra Espártaco. Os relatos de "A Broken Dream" ilustram os escravos a princípio demonstrando toda a sua bravura em combate, mas, na medida em que era notável a necessidade de mais homens para vencer a disciplina militar romana, os escravos ficaram abalados. Espártaco ainda tentou uma investida suicida para tomar a vida de Crasso, mas acabou sendo detido no meio do caminho. A vida do líder dos gladiadores terminaria ali.
Cerca de seis mil escravos sobreviventes da batalha recuaram de volta às montanhas, mas foram perseguidos e rendidos por Crasso e seus homens. Eles foram crucificados e expostos por toda a via Ápia como um aviso aos demais escravos. Há referências na letra da música deste evento. Além disso, outros cinco mil escravos que haviam fugido pelo norte foram pegos por Pompeu na região de Etrúria. Na ocasião, o general enviou uma carta ao senado romano atribuindo a si o destaque na eliminação dos revoltosos. Crasso jamais o perdoaria por isso.
A letra provoca uma reflexão nos seus últimos versos. A glória e a fortuna que empoderaram Roma foram construídas às custas de milhões de escravos. Espártaco esteve próximo de reverter esta realidade, mas acabou derrotado. Por conta disso, haverá ainda mais sangue e dor. E o álbum se encerra com o instrumental "The Finale".
Considerações Finais
O álbum conta a trajetória de Espártaco, desde a sua redução a escravo por desertar do exército romano, sendo vendido a um lanista para atuar como gladiador, à sua insurgência contra o poder de Roma, liderando e libertando um grupo considerável de escravos na península itálica, com o objetivo de conquistar a verdadeira liberdade ao cruzar as divisas do norte. As partes instrumentais interpretam em grande parte as batalhas travadas entre Espártaco e seus homens com o exército de Roma. E o ápice do álbum se dá na batalha final de Espártaco em que ele é derrotado e o sonho da liberdade se esvai.
A interpretação da banda sobre o legado deixado por Espártaco pode soar um tanto pessimista. Em parte concordo. Outras insurgências de escravos seriam ainda duramente reprimidas pelos romanos, como a de Bruttia em 70 a.C. e a de Thurii em 60 a.C. No entanto, é importante ressaltar que a trajetória de Espártaco não foi de todo em vã. O governo romano passou a tratar os escravos não mais como propriedade privada, mas sim como uma questão de ordem pública. Dessa forma, a relação entre senhores e escravos passou a ser de interesse do Estado, pois os excessos cometidos pelos escravocratas poderiam desencadear novas rebeliões. Isso enfraqueceu consideravelmente o comércio de escravos na medida em que muitos latifundiários optaram por não adquirir novos escravos. Muitos dos que ainda possuíam escravos os liberaram para trabalharem em suas terras como arrendatários. Outros mantiveram como escravos apenas aqueles que desde o nascimento habitavam em suas propriedades. O temor de outra grande revolta como a de Espártaco pairou ainda por muito tempo sobre Roma.
Na minha opinião, Triumvirat produziu um bom álbum conceitual. Talvez os eventos históricos relacionados à temática do álbum tenham sido explorados pela letra com pouca profundidade. As letras deram conta de traçar uma trajetória cronológica dos eventos de uma maneira simples, objetiva e pragmática. No entanto, a falta de densidade lírica se contrapôs à complexidade instrumental introduzida por Jürgen Fritz (teclados) e complementada no mesmo nível pelos demais integrantes. Em razão disso, esse álbum é frequentemente apontado como um dos melhores do rock progressivo alemão.
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